Apesar da prática da amamentação ter aumentado no Brasil, sua duração ainda é menor do que a recomendada. Duas em cada três crianças menores de seis meses já recebem outro tipo de leite, sobretudo leite de vaca, frequentemente acrescido de alguma farinha e açúcar, e somente uma em cada três crianças continua recebendo leite materno até os dois anos de idade. Aumenta a cada ano a parcela da população infantil que já apresenta excesso de peso (sobrepeso e obesidade) devido a intensas mudanças nas práticas alimentares e modo de vida de sociedade, tais como: aumento do consumo de alimentos não saudáveis, como os ultra-processados; a existência de ambientes que favorecem o seu consumo; falta de tempo da família para o preparo das refeições em decorrência, por exemplo, de extensas jornadas de trabalho e deslocamento, particularmente nas grandes cidades.
Uma alimentação adequada e saudável deve ser feita com "comida de verdade" e começa com o aleitamento materno. Alimentação deve ter como base alimentos in natura ou minimamente processados (como arroz, feijão, frutas, legumes e verduras, mandioca, milho, carnes e ovos, entre outros). Os alimentos processados industrialmente (como enlatados, queijos e conservas) devem ser limitados e, se forem consumidos, utilizados em pequenas quantidades. Já os alimentos ultra-apressados (como biscoitos e bolachas, refrigerantes, salgadinhos de pacote, macarrão instantâneo, guloseimas) não devem fazer parte da alimentação da criança. E importante ser crítico quanto a informações, orientações e mensagens sobre alimentação veiculadas em propagandas comerciais, pois levam ao consumo de alimentos desnecessários e/ou prejudiciais à saúde.
Para melhor compreender a importância da alimentação para a criança seguem algumas informações:
- A saúde da criança é prioridade absoluta e responsabilidade de todos, não só da mãe. Criar uma criança, alimentá-la e orientá-la não são trabalhos de uma única pessoa, mas tarefa de todos que estão ligados, direta ou indiretamente a ela.
- O ambiente familiar deve proporcionar interações e fortalecer vínculos entre a criança e os demais membros da família, ser seguro, acolhedor, alegre e propiciar alimentação adequada e saudável.
- Nos primeiros anos de vida, a variedade e a forma com que os alimentos são oferecidos influenciam a formação do paladar e a relação da criança com a alimentação. A criança que come alimentos saudáveis e adequados quando pequena tem mais chances de se tornar uma pessoa adulta consciente e autônoma para fazer boas escolhas alimentares. Proteja a criança da publicidade dos alimentos.
- A alimentação é uma prática social e cultural. O ato de se alimentar tem muitos significados. Come-se não somente para saciar a fome, mas também por se estar feliz, triste, ansioso, solitário, entre outros tantos motivos. Alimentar é um ato cultural que envolve relações, hábitos e formas de preservar e transmitir tradições e conhecimentos.
- Faz parte da alimentação adequada e saudável o consumo de alimentos e preparações ligados à história da famflia, comunidade e/ou etnia, e da região em que se vive.
Leite materno e amamentação
O leite materno é o alimento ideal para a criança, pois é totalmente adaptado às suas necessidades nos primeiros anos de vida. Não existe outro leite igual, nem parecido, apesar dos esforços da indústria em modificar leites de outros mamíferos, como o da vaca, para torná-los mais adequados ao consumo por crianças pequenas. Produzido naturalmente pelo corpo da mulher, o leite materno é o único que contém anticorpos e outras substâncias que protegem a criança de infecções comuns enquanto ela estiver sendo amamentada, como diarreias, infecções respiratórias, infecções de ouvidos (otites) e outras e, caso a criança adoeça, a gravidade da doença tende a ser menor. Também previne algumas doenças no futuro, como asma, diabetes e obesidade; e favorece o desenvolvimento físico, emocional e a inteligência.
A recomendação atual é que a criança seja amamentada iá na primeira hora de vida e por 2 anos ou mais. Nos primeiros 6 meses, a recomendação é que ela receba somente leite materno. Quando isso ocorre, dizemos que a criança está em amamentação exclusiva. Nenhum outro tipo de alimento necessita ser dado ao bebê enquanto estiver em amamentação exclusiva: nem líquidos, como água, água de coco, chá, suco ou outros leites; nem qualquer outro alimento, como papinha e mingau. Mesmo em regiões secas e quentes, não é necessário oferecer água às crianças alimentadas somente com leite materno, pois ele possui toda a água necessária para a hidratação nesse período. Em dias quentes, a criança poderá querer mamar com mais frequência para matar a sede.
Se por algum motivo a criança não puder ser amamentada exclusivamente até os 6 meses e começar a receber leite de vaca nesse período, a oferta de alimentos deverá começar aos 4 meses para evitar deficiências nutricionais, já que o leite de vaca não possui todos os nutrientes necessários para o desenvolvimento da criança.
Os movimentos que a criança faz para retirar o leite do peito são um exercício importante para a boca e para os músculos do rosto e irão ajudar a criança a não ter problemas com a respiração, a mastigação, a fala, o alinhamento dos dentes e, também, para engolir. Muito se vê crianças com formação dos dentes inadequada devido ao uso precoce de chupetas e mamadeiras.
Todo o leite materno é adequado, possuindo calorias, gorduras, proteínas, vitaminas, água e outros nutrientes essenciais na dose certa para o crescimento e o desenvolvimento adequado das crianças. O leite materno nunca é fraco.
Escolha dos alimentos
O envolvimento da criança na escolha dos alimentos e no preparo das refeições deve ser estimulado, pois permite que ela vivencie as tarefas cotidianas relacionadas à alimentação. As crianças são curiosas e gostam de interagir na cozinha. A chance de a criança ingerir um alimento que ela ajudou a preparar e bem maior. Se a criança recusa um alimento porque não gosta, é importante que a família continue a oferecê-lo para ela, sem forçar, pois quanto mais oferecer esse alimento maior será a chance de ela aceitar. Para que a criança goste de uma variedade de alimentos, é importante apresentar a ela a maior diversidade possível dos alimentos saudáveis que sua família pode obter, que sejam tradicionalmente consumidos pela família e estejam disponíveis em sua região.
Adoçantes
Adoçantes não são recomendados para crianças. A fim de diminuir a quantidade de açúcar, alguns alimentos ultraprocessados, como refrescos em pó, sucos de caixinha, bolinhos, biscoitos, sorvetes, entre outros, contêm adoçantes, apresentados nos rótulos como edulcorantes (aspartame, ciclamato de sódio, acesulfame de potássio, sacarina sódica, estévia, manitol, sorbitol, xilitol e sucralose). Como os efeitos dos adoçantes na saúde das crianças não são plenamente conhecidos, essas substâncias não devem ser oferecidas a elas, a não ser por indicação de profissional de saúde. Além disso, habituar a criança ao sabor muito doce nos primeiros anos de vida estimula o consumo excessivo de alimentos e bebidas com açúcar e adoçantes, o que pode se tornar um hábito para a vida toda.
Escola e lanchinhos
A alimentação das crianças ocorre principalmente em dois espaços: sua casa e a escola. Em casa, costumam acontecer as principais refeições: café da manhã, almoço e jantar. Nesses momentos, o desafio é acostumar os filhos a comerem de tudo, com pratos equilibrados e completos.
Quando as crianças começam a ir para a escola, os pais muitas vezes se veem com dificuldade para oferecer lanchinhos saudáveis para os filhos levarem na lancheira, principalmente quando a escola não possibilita a oferta de lanches. Com a rotina corrida da família, corre-se o grande risco de a criança acabar consumindo muito mais açúcar e comendo principalmente lanchinhos industrializados, opções práticas, mas que nem sempre são as melhores escolhas para a sua saúde.
Como preparar lanches saudáveis para os filhos?
Com informação e planejamento, fica mais fácil para os pais saberem o que e como preparar lanches nutritivos que darão para as crianças a energia que elas precisam no dia a dia.
Dicas para oferecer lanchinhos saudáveis para as crianças:
- Mais alimentos naturais, menos alimentos processados - Os alimentos processados como pães industrializados, sucos de caixinha, frios, bolachas recheadas e salgadinhos de pacote não são tão saudáveis quanto os mesmos alimentos consumidos de forma natural. Se for incluir algum alimento industrializado, prefira aqueles sem corantes, sem conservantes, ou qualquer ingrediente que você não saiba o que é.
- Preste atenção na lista de ingredientes - Quando for incluir na lancheira uma bebida ou alimento industrializado, sempre leia a lista de ingredientes que está na embalagem. Quando checar os componentes e encontrar um nome que não sabe o que significa, é um sinal de que aquela não é a melhor opção para o seu filho. A ordem dos ingredientes mostra a proporção em que são usados na composição. Se o açúcar está em primeiro lugar, sinal vermelho! Isso significa que ele é ingrediente em maior quantidade naquele produto. Se o rótulo informar a presença de gordura trans ou gordura vegetal hidrogenada, também é melhor evitar.
- Equilíbrio na lancheira assim como nas refeições - Na hora de montar a lancheira, podemos seguir o mesmo raciocínio que usamos para montar um prato equilibrado, tendo sempre três grupos alimentares: carboidrato, proteína e frutas, além de água. Essa combinação garante que a criança tenha energia e supra suas necessidades nutricionais durante os intervalos das principais refeições.
- Carboidratos do bem - Os carboidratos são a principal fonte de energia para as crianças, dando mais disposição para brincar e estudar. Para garantir lanches saudáveis, dê preferência aos alimentos integrais ou ricos em fibras. Eles aumentam a saciedade e ainda melhoram a saúde intestinal. Ao invés de oferecer uma bisnaguinha, que contém carboidrato simples, uma ideia é preparar bolos e pães caseiros com aveia ou farinha de arroz integral, que mantêm a energia por mais tempo.
- Proteínas variadas: As proteínas são usadas para o corpo produzir elementos importantes como hormônios, músculos, pele e cabelo, por isso deve estar presente nos lanches saudáveis. Uma boa ideia é variar os tipos de proteína oferecido à criança. Se ela já come carne nas refeições, que tal incluir no lanche queijos e iogurtes? Algumas opções saudáveis são queijos como cottage e ricota, além de iogurtes e leites integrais. Com isso, a criança também ingere a quantidade necessária de cálcio, importante para o desenvolvimento dos ossos.
- Frutas, fontes de vitamina - Toda criança cresce aprendendo que frutas são saudáveis. Elas são ótimas fontes de vitaminas e minerais, e têm a função de regular diversas funções no organismo. Lembre-se da grande variedade de frutas disponíveis, para não incluir sempre as mesmas na lancheira. Vale a pena optar por frutas da época, que podem ser encontradas por preços menores em mercados e feiras. Além de frutas in natura, também é uma boa ideia variar e oferecer para a criança frutas secas, chips de frutas, geleias caseiras e sucos naturais. Dessa forma ela vai experimentar diversas texturas e sabores, ampliando seu paladar.
- Água, sempre! - É básico, mas às vezes acaba sendo esquecida: a água é indispensável na lancheira dos pequenos porque hidrata o corpo e isso faz toda a diferença na capacidade de concentração da criança. De vez em quando, experimente incluir água de coco para variar, já que ela é rica em minerais. Se for comprar industrializada, preste atenção para escolher a opção sem açúcar e conservantes.
- Cuidado com os sucos - Assim como os outros alimentos, os sucos também devem ser escolhidos com cuidado. Caso queira colocar um suco na lancheira, prefira os naturais feitos em casa, sem coar e preferentemente sem açúcar. Para sucos de frutas mais azedas, prefira adoçar com mel ou misturar com outro suco de fruta mais doce, como a maçã. Se for comprar sucos industrializados, prefira os que são 100% fruta. Mesmo assim, às vezes eles são feitos sem a casca ou o bagaço, ou seja, são compostos basicamente do carboidrato das frutas e sem fibras.
- Sempre fresquinho - Invista em uma lancheira térmica de boa qualidade para conservar bem os alimentos, assim você poderá incluir queijos e laticínios no lanche sem medo. Vale também colocar gelos e bolsas térmicas congeladas para garantir que os alimentos fiquem refrigerados por mais tempo.
- Cuidar da higiene em todas as etapas da alimentação da criança e da família - O cuidado na preparação dos alimentos evita contaminações por micro-organismos e o desenvolvimento de doenças infecciosas.
- Planeje-se! - Uma boa prática de organização para conseguir oferecer lanches saudáveis para as crianças é criar uma tabela com um planejamento da semana toda, montando as lancheiras diárias com os três grupos alimentares principais. Assim, fica mais fácil organizar as tarefas como fazer as compras dos ingredientes, congelar o que for preciso e organizar a lancheira na noite anterior se possível. Outra dica é ficar atento aos alimentos regionais e da época, que costumam ser mais baratos. Isso também ajuda a ter um cardápio variado durante o ano.
Com essas informações, planejamento e organização, fica mais fácil manter uma alimentação saudável no dia a dia. Acostumar a criança a valorizar alimentos nutritivos também ajuda a desenvolver o seu paladar, portanto ela tende a crescer com hábitos mais saudáveis.
Fonte:
- Ministério da Saúde: GUIA ALIMENTAR PARA CRIANÇAS BRASILEIRAS MENORES DE 2 ANOS - 2ª Edição - Brasília - 2019.
- Ministério da Saúde, GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA - 2a Edição - Brasília - 2014.
Site:
- www.dentrodahistoria.com.br
- www.alimentacaosaudavel.org.br
Adriana Silva Lopes - Nutricionista - CRNI 4084